LEITORES ASSÍDUOS (ou com vontade de sê-lo)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

POEMA EM BUSCA DE NOME, da série "poemas de circunstância"

Enquanto aguardamos a continuação do relato sobre Aloprina-Safo (que, afinal, talvez nunca venha, visto tão pouco interesse haver despertado), entretenhamo-nos com mais um "poema de circunstância". Gostaria de lançar um desafio aqui: como nunca soube pôr um nome, um título neste texto, peço àqueles leitores que se sintam inspirados que o batizem. Enviem-me um nome, e aí veremos, certo?

Abraço!


Não tens como voltar
Que se saiba
Deixando de lado os embustes
Ninguém jamais voltou

Ora, o pensamento de que se volta
De que se pode algum dia voltar
Ainda que sob outra pele
E com outros ossos
Atraente embora
Nunca me convenceu
Só os tolos se comprazem a crer
Que valem mais que os pássaros e os cães
Do que as flores do campo
E as taquaras que o vento inclina

A vida é uma e apenas uma, e só
Teus dias são únicos e teus tão somente
Infinitos talvez psicologicamente
Mas materialmente breves como a aurora
Estão inarredavelmente contados
Eis o que me parece sensato crer

Mas há um modo de ficar
Se assim o desejares
Na vida dos que permanecem ainda

Pode parecer estultice
Pensar em deixar algo
Se já nunca mais o veremos em uso
De fato, assim é
Mas que importa?

Não haverá possivelmente ato de amor maior
Que o desinteresse em deixar-se ficar
Sem que isso nos afete minimamente sequer
E para sempre

Matar um presidente
Plantar uma roseira
Escrever uma tese
Ainda que insuficiente e cheia de goteiras
Ou alinhar palavras velhas na intenção de um poema novo
Em prosa ou verso
Tu decides, amigo

Porém o silêncio e o esquecimento talvez
Sejam o que de melhor se possa afinal fazer
E deixar nada no fim
É amar firme e forte
É agradecer o acaso
Que nos pôs nesta inexplicável e maravilhosa
Tristeza de existir

7 comentários:

  1. Meus pêsames. Sei o que é o sofrimento de não encontrar o título para um trabalho. Infelizmente não poderia ajudar. Diante desse tipo de situação tenho uma tendência a fazer algum tipo de referência obscura e isso deixa os títulos mais complexos do que deveriam ser. Imagino que ele deveria ter um título simples, curto. Uma única palavra, ou talvez mais de uma, mas significando algo simples.

    Também cabe aqui a discussão da necessidade de um título. Eles certamente são ferramentas interessantes para a construção de um texto. Um título pode funcionar como gancho, sugerir formas de interpretação e outras mil coisas. No entanto, se ele não surge naturalmente, será realmente necessário? Penso agora nos trabalhos de grandes compositores que não tinham títulos, apenas um nome que servia de referência. "Concerto para violino x", "Quarteto para cordas Y". Certamente eles não tinham de lidar com esse fardo.

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  2. Como deves imaginar, gostei muito do poema. Não sei a razão, mas desde que o li achei que cabia um título em latim. Com a colaboração do meu irmão (mais proficiente em latim do que eu) segue nossa sugestão:
    "Sine Reditus" (sem retorno)

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  3. cheguei tarde. eu ia sugerir "finitude", mas amei o "sine reditus". e ainda aprendi que o economês fala em "rédito", como "resultado", "lucro" ou, simplesmente, "retorno" mesmo.
    DdAB

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  4. Gostei da sofisticada sugestão da Mara.

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