O texto a seguir foi utilizado especificamente em sala de aula, com duas turmas minhas de Português. Buscava algo sobre o assunto e acabei escrevendo o texto que queria. Não o dei a conhecer em meu nome, porém. Para evitar impor minha opinião aos alunos, achei melhor valer-me de um pseudônimo, um certo Sebastião de tal. Que meus alunos me perdoem o truque, até porque não julgo que as aulas em que o trabalhamos tenham sido das piores.
Publico-o agora aqui no blogue porque, primeiro, me parece um bom texto em si mesmo, depois, não deixa de relacionar-se com aquele aqui publicado na semana passada. Ao leitor de considerar as contradições e acertos.
Abraço,
Conrado
PS Não teria sido César (como está escrito no cabeçalho do blogue), mas seu sobrinho Otávio Augusto quem mantinha em cerimônias públicas um escravo a recitar-lhe ritualmente "Cave ne cadas; memento mori" (=Cuidado para não caíres; lembra-te de que deves morrer). Pelo menos essa é a informação colhida na revista Ça m'intéresse (núm. 6, junho de 2011), que o Gugu tão gentilmente me trouxe da França. Ah, sim, e "Que sais-je?" se traduz por "O que sei?", caso alguns de meus leitores desconheçam o francês, o que não é improvável, em tempos em que língua estrangeira moderna será inglês ou espanhol.
O português é uma língua difícil, é o que todo mundo diz. Nós brasileiros acreditamos que é muito mais complicado aprender o português do que aprender, por exemplo, o inglês, ou mesmo o chinês! Na realidade, não é bem verdade que o português seja difícil. Em todo caso, certamente não é mais difícil ou complicado do que qualquer outra língua.
Todas as línguas são complicadas, são difíceis, se as quisermos entender e falar bem, mas são bastante acessíveis se nos limitarmos à mera comunicação básica. No caso de nossa língua-mãe, visto havermos nascido em seu seio e, por isso, sermos, justamente, falantes nativos, não pode haver nada mais fácil para nós do que usá-la em nosso dia a dia. Todo falante nativo de uma língua a domina perfeitamente nesse contexto. A complicação nasce quando queremos usá-la para além da comunicação imediata e cotidiana. Escrever ou ler (dependendo, é claro, daquilo que formos ler ou escrever) pode revelar-se bastante árduo. E mesmo falar em contextos aos quais não estivermos habituados poderá tornar-se algo apavorante.
Aqueles que frequentaram a escola por alguns bons anos saberão decerto lidar linguisticamente com um número maior de contextos do que aqueles desafortunados que pouca ou nenhuma escola tiveram. Mas, se por um lado a escola nos auxilia, e muito, por outro não deixa de incutir-nos noções equivocadas acerca de nossa própria língua. Não fosse isso, não haveria por aí gente educada (no sentido de instruída) falando tanta bobagem sobre o assunto.
Recordo-me de ter ouvido uma vez da boca de uma professora de Português que “gratuíto” simplesmente não existia, quando lhe haviam dito que, a despeito de essa palavra não constar assim acentuada no Houaiss e no Aurélio, era assim que as pessoas a pronunciavam, incluindo entre estas até apresentadores de telejornais como o William Bonner. Ora, se as pessoas (e falo de pessoas instruídas) agora entendem ver na sílaba “-tui-” não mais um ditongo e sim um hiato (daí o acento: “-tuí-”), não será a ausência desse fato (largamente documentado) nos dicionários, por melhores que sejam estes, que vai determinar a questão. O fato de ocorrências assim não constarem nos dicionários se deve tão somente à limitação que obras desse tipo necessariamente têm. Você pode até preferir e recomendar a pronúncia ditongada em “gratuito” e “circuito”, mas, uma vez amplamente documentada a pronúncia em hiato dessas palavras (“gratuíto” e “circuíto”), você, ainda mais sendo profissional do idioma, jamais poderá negá-la nem, muito menos, condená-la.
É preciso aceitar o fato de que uma língua viva sofre alterações com o passar do tempo. Se tais mudanças são para pior ou melhor, tal julgamento, bastante subjetivo, não é suficiente para freá-las. Depois, é necessário entender que mesmo os julgamentos de valor também se alteram. O que hoje é considerado o português vernacular e castiço, ainda ontem era o chamado latim vulgar, ou seja, o latim da ralé. E a passagem do latim vulgar ao português culto se deveu menos ao letramento da população que se valia dessa língua que ao puro e simples enriquecimento de uma camada específica de falantes dela, que, então com posses e pecúnia, entendeu valorizar seu idioma. Mas não o valorizou para todos os falantes, senão apenas para aqueles abastados que dispunham de tempo e meios para cultivá-lo. Os outros... Bem, os outros seguiram “falando errado”.
Há muitos modos distintos de se falar o mesmo idioma. A valorização de um modo de falar, por o considerarmos talvez superior, mais elevado, culto, etc., não deveria nunca desconsiderar os demais, sob pena de silenciarem-se seus falantes. O mundo em que hoje vivemos, que vem brigando por democracia e igualdade, que busca a compreensão das diferenças e o entendimento dos divergentes, deve procurar ser o palco da aceitação e da fraternidade. Ainda que lá no fundo tendamos a preferir um modo a outro, nada nos autoriza a desrespeitar quem prefira diferentemente.
O blogue é um espaço de exercício de escrita e, portanto, de reflexão. Idealmente, mobilizará alguns leitores.
LEITORES ASSÍDUOS (ou com vontade de sê-lo)
domingo, 31 de julho de 2011
segunda-feira, 25 de julho de 2011
POR UMA VIDA MELHOR
Já nem queria mais entrar na celeuma que a publicação do livro didático Por uma vida melhor – da coleção Viver, aprender, distribuída pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Educação (MEC) – acabou gerando. Por curiosidade, porém, decidi dar uma olhada no livro e fui procurá-lo na internet. Acabei encontrando, em pdf, apenas o capítulo 1 da obra (“Escrever é diferente de falar”), justamente aquele que teria deflagrado a assuada (ver http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/V6Cap1.pdf)
Se o leitor tiver a paciência de ler esse capítulo, verá que não tem nada de mais. Trata-se de uma aula de Português como tantas outras publicadas ou não em livros específicos para esse fim. O que parece ter detonado a discussão foi o fato de os autores, muito acertadamente, reconhecerem que, “muitas vezes, na norma popular, a concordância acontece de maneira diferente” daquela existente na chamada “norma culta”. Assim, ao lado de “os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados”, teríamos formas variantes como “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”. Do mesmo modo, ao lado de construções como “os meninos pegam o peixe”, existiriam variantes como “os menino pega o peixe” ou mesmo “nós pega o peixe”.
Ora, leitor amigo, que formas assim variantes existam, ninguém que tenha olhos que vejam e ouvidos que ouçam há de duvidar! Que não devam ser ensinadas na escola, tampouco haveria por que discutir-se, mas não em razão, como se tem dito, de serem essas variantes “erradas”, e sim porque formas assim, sendo populares (e, como tais, “corretíssimas” dentro de seu contexto), já se encontram, na maior parte dos casos, muito bem instaladas no repertório linguístico de nossos alunos e vêm com eles para a escola, juntamente com a cultura das telenovelas, o funk, o pagode, o hip-hop e tantas outras manifestações da cultura popular. Caberia à escola apresentar-lhes o que desconhecem, não é verdade? Pois bem, e é isso mesmo que propõem os autores da obra: “Como a linguagem possibilita acesso a muitas situações sociais, a escola deve se preocupar em apresentar a norma culta aos estudantes, para que eles tenham mais uma variedade à sua disposição, a fim de empregá-la quando for necessário. (p.12)
Ao mencionarem essas formas variantes, típicas do falar popular, os autores do livro parecem no entanto ter procedido de modo bastante adequado, porque corretamente partem do conhecido para o desconhecido, mostrando aos alunos que aquilo que trazem de casa não é o caos, e sim algo que pode ser analisado e compreendido. O livro se destina a alunos da EJA, isto é, a alunos oriundos de classes desfavorecidas socialmente, que voltam à escola para reencontrar o caminho que um dia perderam. Portanto, o que está se dizendo a essas pessoas NÃO É que aquilo que têm, aquilo que são, aquilo que trazem é “errado”, é “defeituoso”, é “feio”, e como tal deva ser abandonado. O que se diz a essas pessoas é que sua cultura linguística faz sentido, muito sentido, sendo por isso uma das tantas manifestações de nossa riquíssima língua portuguesa.
Vistas as coisas assim, agora é ir aos poucos buscando entender outras variantes do português, ir passo a passo entrando em contato com outras possibilidades de expressão, outras fontes de cultura, as quais, repito, não devem jamais ser vistas como substitutas das antigas e já incorporadas, mas antes como um bem-vindo e oportuno acréscimo ao que já se sabe.
Para finalizar, gostaria de mencionar um livro sobre a relação linguagem e escola que o leitor interessado por essas questões deveria consultar sem falta. Trata-se, justamente, de Linguagem e escola: uma perspectiva social, de Magda Soares. Tenho comigo a 9ª edição, de 1992, publicada pela Ática na “série fundamentos” (ISBN 85 08 02694 3). A autora, que até onde eu saiba é professora da Universidade Federal de Minas Gerais, faz uma exposição clara e muito bem informada sobre como a questão da linguagem se tem mostrado uma das questões centrais da educação.
Se o leitor tiver a paciência de ler esse capítulo, verá que não tem nada de mais. Trata-se de uma aula de Português como tantas outras publicadas ou não em livros específicos para esse fim. O que parece ter detonado a discussão foi o fato de os autores, muito acertadamente, reconhecerem que, “muitas vezes, na norma popular, a concordância acontece de maneira diferente” daquela existente na chamada “norma culta”. Assim, ao lado de “os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados”, teríamos formas variantes como “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”. Do mesmo modo, ao lado de construções como “os meninos pegam o peixe”, existiriam variantes como “os menino pega o peixe” ou mesmo “nós pega o peixe”.
Ora, leitor amigo, que formas assim variantes existam, ninguém que tenha olhos que vejam e ouvidos que ouçam há de duvidar! Que não devam ser ensinadas na escola, tampouco haveria por que discutir-se, mas não em razão, como se tem dito, de serem essas variantes “erradas”, e sim porque formas assim, sendo populares (e, como tais, “corretíssimas” dentro de seu contexto), já se encontram, na maior parte dos casos, muito bem instaladas no repertório linguístico de nossos alunos e vêm com eles para a escola, juntamente com a cultura das telenovelas, o funk, o pagode, o hip-hop e tantas outras manifestações da cultura popular. Caberia à escola apresentar-lhes o que desconhecem, não é verdade? Pois bem, e é isso mesmo que propõem os autores da obra: “Como a linguagem possibilita acesso a muitas situações sociais, a escola deve se preocupar em apresentar a norma culta aos estudantes, para que eles tenham mais uma variedade à sua disposição, a fim de empregá-la quando for necessário. (p.12)
Ao mencionarem essas formas variantes, típicas do falar popular, os autores do livro parecem no entanto ter procedido de modo bastante adequado, porque corretamente partem do conhecido para o desconhecido, mostrando aos alunos que aquilo que trazem de casa não é o caos, e sim algo que pode ser analisado e compreendido. O livro se destina a alunos da EJA, isto é, a alunos oriundos de classes desfavorecidas socialmente, que voltam à escola para reencontrar o caminho que um dia perderam. Portanto, o que está se dizendo a essas pessoas NÃO É que aquilo que têm, aquilo que são, aquilo que trazem é “errado”, é “defeituoso”, é “feio”, e como tal deva ser abandonado. O que se diz a essas pessoas é que sua cultura linguística faz sentido, muito sentido, sendo por isso uma das tantas manifestações de nossa riquíssima língua portuguesa.
Vistas as coisas assim, agora é ir aos poucos buscando entender outras variantes do português, ir passo a passo entrando em contato com outras possibilidades de expressão, outras fontes de cultura, as quais, repito, não devem jamais ser vistas como substitutas das antigas e já incorporadas, mas antes como um bem-vindo e oportuno acréscimo ao que já se sabe.
Para finalizar, gostaria de mencionar um livro sobre a relação linguagem e escola que o leitor interessado por essas questões deveria consultar sem falta. Trata-se, justamente, de Linguagem e escola: uma perspectiva social, de Magda Soares. Tenho comigo a 9ª edição, de 1992, publicada pela Ática na “série fundamentos” (ISBN 85 08 02694 3). A autora, que até onde eu saiba é professora da Universidade Federal de Minas Gerais, faz uma exposição clara e muito bem informada sobre como a questão da linguagem se tem mostrado uma das questões centrais da educação.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
A PSEUDODEMOCRACIA
De modo a simplificar a exposição, digamos que há duas formas políticas de se conceberem as relações sociais, e ambas, creio eu, bastante justificáveis. A primeira é a elitista; a segunda, a democrática.
E digo serem essas formas justificáveis, porque tanto numa como noutra pode sempre nosso convívio encontrar um modo legítimo de ser. Quero com isso dizer que pode muito bem nossa sociedade funcionar sob uma ou outra dessas formas, ainda que partidários testudos de cada um dos lados tendam sempre a pôr em xeque a possibilidade de existência do outro.
Ora, ainda que tendamos a valorizar modos democráticos de organização social, forçoso é admitir não ser a democracia necessariamente superior em si mesma (o que, em bom latim, se dirá ótima). Outros tempos houve e outros povos (restrinjo-me por conveniência à história do Ocidente) em que abertamente se desfavorecia, e mesmo condenava-se, a democracia, e nem por isso creio acharmo-nos hoje numa posição indubitavelmente superior àquela de tempos idos, a ponto de verdadeiramente convencermo-nos de haver um irrevogável avanço rumo ao melhor, uma “evolução” nas relações humanas. Essa ilusão, infelizmente, terá decerto morrido junto com o séc. XIX.
O discurso político, como o jurídico, o científico e tantos outros, seguirá invariavelmente o tempo e os costumes do povo onde se vê inserido. Ninguém se apresentará, no Brasil de hoje, por exemplo, como contrário à democracia, visto ser essa forma de organização social entendida hoje como indubitavelmente a melhor. Que não seja assim necessariamente, eis o que deve ficar de imediato bem claro.
Esse, aliás, é um ponto sobre o qual hoje não me parece demasiado insistir, o de que não seja a democracia um valor em si; trata-se antes de um valor relacional. Tal compreensão decerto legitima uma posição elitista, mas ao fazê-lo dá igualmente como que nova cor à concepção democrática que buscamos defender.
Uma vez legitimados esses dois modos de se relacionarem politicamente as pessoas, seja na família, seja na escola, seja no bairro, na cidade ou no país, cabe-nos agora entender uma das pragas que vicejam em nossa sociedade, a saber, a pseudodemocracia.
Em palavras simples, é a pseudodemocracia a atitude aparentemente democrática de alguém que, na verdade, ou não crê, no fundo, nessa forma de organização social, ou, na melhor das intenções, não a compreende em toda sua extensão e, por isso, a adota equívoca ou impropriamente.
No primeiro caso, temos o hipócrita, o velhaco; no segundo, o simplório, o bronco, que, por melhores intenções que tenha, acaba invariavelmente descontentando a si e aos outros.
Ambos os casos, porém, se derivam do mesmo engano em que nos achamos hoje de entender que apenas a democracia seja legítima. Ora, diante disso, ninguém quer ser antidemocrático. Todos somos democratas de carteirinha, quando na verdade, infelizmente, não demorará muito a olhos atentos identificarem em nós o hipócrita ou o bronco, ou às vezes quem sabe um misto dos dois.
Concluo elogiando aqueles corajosos elitistas que se assumem abertamente como tal. Conheci alguns, poucos é verdade, e os leio ainda em menor número nos periódicos de grande estampa. Embora eu tenda sempre a discordar de suas posições, admito que com esses sempre me foi possível dialogar, visto esposarmos de fato posições antagônicas. Já com os pseudodemocratas, onde a possibilidade de diálogo!?
A morte do diálogo, eis aí talvez a mais triste consequência da pseudodemocracia...
E digo serem essas formas justificáveis, porque tanto numa como noutra pode sempre nosso convívio encontrar um modo legítimo de ser. Quero com isso dizer que pode muito bem nossa sociedade funcionar sob uma ou outra dessas formas, ainda que partidários testudos de cada um dos lados tendam sempre a pôr em xeque a possibilidade de existência do outro.
Ora, ainda que tendamos a valorizar modos democráticos de organização social, forçoso é admitir não ser a democracia necessariamente superior em si mesma (o que, em bom latim, se dirá ótima). Outros tempos houve e outros povos (restrinjo-me por conveniência à história do Ocidente) em que abertamente se desfavorecia, e mesmo condenava-se, a democracia, e nem por isso creio acharmo-nos hoje numa posição indubitavelmente superior àquela de tempos idos, a ponto de verdadeiramente convencermo-nos de haver um irrevogável avanço rumo ao melhor, uma “evolução” nas relações humanas. Essa ilusão, infelizmente, terá decerto morrido junto com o séc. XIX.
O discurso político, como o jurídico, o científico e tantos outros, seguirá invariavelmente o tempo e os costumes do povo onde se vê inserido. Ninguém se apresentará, no Brasil de hoje, por exemplo, como contrário à democracia, visto ser essa forma de organização social entendida hoje como indubitavelmente a melhor. Que não seja assim necessariamente, eis o que deve ficar de imediato bem claro.
Esse, aliás, é um ponto sobre o qual hoje não me parece demasiado insistir, o de que não seja a democracia um valor em si; trata-se antes de um valor relacional. Tal compreensão decerto legitima uma posição elitista, mas ao fazê-lo dá igualmente como que nova cor à concepção democrática que buscamos defender.
Uma vez legitimados esses dois modos de se relacionarem politicamente as pessoas, seja na família, seja na escola, seja no bairro, na cidade ou no país, cabe-nos agora entender uma das pragas que vicejam em nossa sociedade, a saber, a pseudodemocracia.
Em palavras simples, é a pseudodemocracia a atitude aparentemente democrática de alguém que, na verdade, ou não crê, no fundo, nessa forma de organização social, ou, na melhor das intenções, não a compreende em toda sua extensão e, por isso, a adota equívoca ou impropriamente.
No primeiro caso, temos o hipócrita, o velhaco; no segundo, o simplório, o bronco, que, por melhores intenções que tenha, acaba invariavelmente descontentando a si e aos outros.
Ambos os casos, porém, se derivam do mesmo engano em que nos achamos hoje de entender que apenas a democracia seja legítima. Ora, diante disso, ninguém quer ser antidemocrático. Todos somos democratas de carteirinha, quando na verdade, infelizmente, não demorará muito a olhos atentos identificarem em nós o hipócrita ou o bronco, ou às vezes quem sabe um misto dos dois.
Concluo elogiando aqueles corajosos elitistas que se assumem abertamente como tal. Conheci alguns, poucos é verdade, e os leio ainda em menor número nos periódicos de grande estampa. Embora eu tenda sempre a discordar de suas posições, admito que com esses sempre me foi possível dialogar, visto esposarmos de fato posições antagônicas. Já com os pseudodemocratas, onde a possibilidade de diálogo!?
A morte do diálogo, eis aí talvez a mais triste consequência da pseudodemocracia...
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Se não há, nem pode haver, imaginemos e voilà!
Amigo leitor!
Hoje te dou uma possível tradução para o português da canção "Imagine", de John Lennon. Tu decerto já conhecerás esses versos famosos e hoje clássicos. Pouco importa. Quero apresentar-te como eu entendo que em português poderíamos dizê-los. Cuida que não me ocupei de rimas, ainda que, se o tivesse feito, possivelmente minha tradução teria crescido em valor. Vamos a ela:
IMAGINE
Imagine não existir paraíso
É fácil, basta tentar
Nenhum inferno debaixo de nós
E acima apenas o céu
Imagine toda a gente
Vivendo o dia de hoje, o agora
Imagine não existirem países
Não, não é difícil imaginar isso
Nada por que matar ou morrer
E também nenhuma religião
Imagine toda a gente
Levando a vida na paz
Podem até dizer que sou um sonhador
Mas é certo que não serei o único
Espero que você venha juntar-se a nós
Para que o mundo seja um só
Imagine não haver posses
Será que você consegue?
Nenhuma necessidade de ganância ou fome
Um sentimento de fraternidade entre as pessoas
Imagine toda a gente
Compartilhando o mundo inteiro
Podem até dizer que sou um sonhador
Mas é certo que não sou o único
Espero que você venha unir-se a nós
Para que o mundo possa ser vivido como um só
Era isso.
Abraço,
Conrado
Hoje te dou uma possível tradução para o português da canção "Imagine", de John Lennon. Tu decerto já conhecerás esses versos famosos e hoje clássicos. Pouco importa. Quero apresentar-te como eu entendo que em português poderíamos dizê-los. Cuida que não me ocupei de rimas, ainda que, se o tivesse feito, possivelmente minha tradução teria crescido em valor. Vamos a ela:
IMAGINE
Imagine não existir paraíso
É fácil, basta tentar
Nenhum inferno debaixo de nós
E acima apenas o céu
Imagine toda a gente
Vivendo o dia de hoje, o agora
Imagine não existirem países
Não, não é difícil imaginar isso
Nada por que matar ou morrer
E também nenhuma religião
Imagine toda a gente
Levando a vida na paz
Podem até dizer que sou um sonhador
Mas é certo que não serei o único
Espero que você venha juntar-se a nós
Para que o mundo seja um só
Imagine não haver posses
Será que você consegue?
Nenhuma necessidade de ganância ou fome
Um sentimento de fraternidade entre as pessoas
Imagine toda a gente
Compartilhando o mundo inteiro
Podem até dizer que sou um sonhador
Mas é certo que não sou o único
Espero que você venha unir-se a nós
Para que o mundo possa ser vivido como um só
Era isso.
Abraço,
Conrado
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Gasta-se mais com pets do que com gente!?
Olá, amigos leitores!
Aqui em casa temos quatro cachorros (com um que mora, desde os tempos em que vivíamos em apartamento, dentro de casa) e dois gatos (estes também "indoor pets"). Minha mulher, meus filhos e eu somos todos, guardadas as proporções, muito carinhosos e atenciosos com os animais. Um dos cachorros, recolhemos da rua em condições, pobrezinho, lastimáveis. Está hoje um cão alegre, sadio e feliz.
Indignamo-nos com o tratamento horroroso que se dispensa aos animais, sobretudo aos cães e gatos que são em nossa cidade largados ao deus-dará. Pensamos fazer-se urgente uma política pública de cuidados aos animais, com a merecida punição a esses falsos e cuéis "donos".
Contudo, parece haver um excesso de zelo pelos bichos quando se dá preferência a um cão em detrimento de uma criança, um ser humano. Ou alguém aí é da opinião que se deixe morrer uma criança de preferência a um animal, por mais querido que este venha a ser?
O texto a seguir, traduzi-o da versão on-line do jornal Corriere della Sera. Que o leitor considere.
Abraço!
Conrado
SE A EUROPA GASTA MAIS COM OS CÃES DO QUE COM OS DIREITOS HUMANOS...
(por Monica Ricci Sargentini -- jornal Corriere della Sera – 1º de julho de 2011)
A primavera árabe trouxe o vento da democracia ao Oriente Médio e ao norte da África, solicitando às Nações Unidas um esforço adicional para que se faça frente a novas emergências humanitárias. Mas o caixa está quase vazio. O orçamento de que pode dispor a Alta Comissária dos Direitos Humanos, a senhora Navi Pillay, é mísero: 202 milhões de dólares, “valor que os australianos, por exemplo, gastam num único ano pelos ovos de Páscoa ou que representa o custo de três aviões de combate F-16”, disse ontem Pillay numa conferência de imprensa em Genebra.
Seria necessário um empenho maior. “Peço a todos os Estados que deem mais, a fim de tornar os direitos humanos uma realidade”, acrescentou a sul-africana, no comando do Comissariado desde 2008. A seguir, desfere um golpe no estilo de vida dos cidadãos da UE: “A cifra que os europeus gastaram com seus animais domésticos somente no ano de 2010 (56,8 bilhões de euros) bastaria a financiar o sistema dos direitos humanos integralmente, incluindo aí meu gabinete, e isso por pelo menos 250 anos!”.
Palavras de fogo, que nos fazem refletir. Quando caminho pelas ruas de Milão, muitas vezes fico a observar as vitrines das pet shops. Algumas delas expõem produtos de superluxo: roupinhas, caminhas coloridas, proteção para as patinhas e tantas outras coisas do tipo, cujo uso não saberia dizer. Sabe-se que hoje em Nova York os cachorros vão ao psicólogo e que muita gente fala de seu pet como se fosse um ser humano.
Um paradoxo que se afigura ainda mais evidente a quem dedica a vida a ajudar os deserdados da terra. Alguém assim é a irmã Laura Girotto, há 18 anos missionária na Europa, que no Corriere do dia 17 de março passado manifestou a Gian Antonio Stella toda a sua indignação: “ Leio sobre iniciativas para adotar cães a distância. Vejo nos supermercados setores inteiros dedicados a alimentos para animais, a produtos para cuidá-los, a brinquedos confeccionados para eles... Brinquedos! Repito: amo os animais, mas Santo Deus! Em Ádua, cidade no norte da Etiópia, crianças morrem por ninharias, às vezes apenas porque lhes falta um tubo, uma cânula, por onde se possa administrar-lhes um simples soro de reidratação. Uma diarreia infantil é já suficiente para que morra um recém-nascido em 24 horas! Como posso aceitar esse abismo entre a atenção que se dedica aos amigos do homem e o desinteresse que se observa pelo próprio homem?”
O mesmo tema foi retomado por Maria Volpe no blogue La 27sima ora, numa postagem com o título “Se un cane vale più di un bimbo” (“Se um cão vale mais do que uma criança”), o qual teve a beleza de 574 comentários, ainda que muitos (infelizmente) fossem de insulto à autora do artigo.
Pois bem, o apaixonado apelo do Alto Comissariado da ONU recoloca o debate na ordem do dia. “Quando considero o dinheiro que vem sendo investido nos direitos humanos, diz a Comissária, me pergunto o quão firme será de fato o empenho das pessoas que defendem os corajosos manifestantes que no Oriente Médio e no norte da África reafirmaram a importância desses direitos”.
Fica, pois, esta pergunta: por que somos tão avessos a fazer uma doação para ajudar uma criança que morre de fome ao mesmo tempo em que as lojas de objetos para animais domésticos se mostram um negócio da China?
Aqui em casa temos quatro cachorros (com um que mora, desde os tempos em que vivíamos em apartamento, dentro de casa) e dois gatos (estes também "indoor pets"). Minha mulher, meus filhos e eu somos todos, guardadas as proporções, muito carinhosos e atenciosos com os animais. Um dos cachorros, recolhemos da rua em condições, pobrezinho, lastimáveis. Está hoje um cão alegre, sadio e feliz.
Indignamo-nos com o tratamento horroroso que se dispensa aos animais, sobretudo aos cães e gatos que são em nossa cidade largados ao deus-dará. Pensamos fazer-se urgente uma política pública de cuidados aos animais, com a merecida punição a esses falsos e cuéis "donos".
Contudo, parece haver um excesso de zelo pelos bichos quando se dá preferência a um cão em detrimento de uma criança, um ser humano. Ou alguém aí é da opinião que se deixe morrer uma criança de preferência a um animal, por mais querido que este venha a ser?
O texto a seguir, traduzi-o da versão on-line do jornal Corriere della Sera. Que o leitor considere.
Abraço!
Conrado
SE A EUROPA GASTA MAIS COM OS CÃES DO QUE COM OS DIREITOS HUMANOS...
(por Monica Ricci Sargentini -- jornal Corriere della Sera – 1º de julho de 2011)
A primavera árabe trouxe o vento da democracia ao Oriente Médio e ao norte da África, solicitando às Nações Unidas um esforço adicional para que se faça frente a novas emergências humanitárias. Mas o caixa está quase vazio. O orçamento de que pode dispor a Alta Comissária dos Direitos Humanos, a senhora Navi Pillay, é mísero: 202 milhões de dólares, “valor que os australianos, por exemplo, gastam num único ano pelos ovos de Páscoa ou que representa o custo de três aviões de combate F-16”, disse ontem Pillay numa conferência de imprensa em Genebra.
Seria necessário um empenho maior. “Peço a todos os Estados que deem mais, a fim de tornar os direitos humanos uma realidade”, acrescentou a sul-africana, no comando do Comissariado desde 2008. A seguir, desfere um golpe no estilo de vida dos cidadãos da UE: “A cifra que os europeus gastaram com seus animais domésticos somente no ano de 2010 (56,8 bilhões de euros) bastaria a financiar o sistema dos direitos humanos integralmente, incluindo aí meu gabinete, e isso por pelo menos 250 anos!”.
Palavras de fogo, que nos fazem refletir. Quando caminho pelas ruas de Milão, muitas vezes fico a observar as vitrines das pet shops. Algumas delas expõem produtos de superluxo: roupinhas, caminhas coloridas, proteção para as patinhas e tantas outras coisas do tipo, cujo uso não saberia dizer. Sabe-se que hoje em Nova York os cachorros vão ao psicólogo e que muita gente fala de seu pet como se fosse um ser humano.
Um paradoxo que se afigura ainda mais evidente a quem dedica a vida a ajudar os deserdados da terra. Alguém assim é a irmã Laura Girotto, há 18 anos missionária na Europa, que no Corriere do dia 17 de março passado manifestou a Gian Antonio Stella toda a sua indignação: “ Leio sobre iniciativas para adotar cães a distância. Vejo nos supermercados setores inteiros dedicados a alimentos para animais, a produtos para cuidá-los, a brinquedos confeccionados para eles... Brinquedos! Repito: amo os animais, mas Santo Deus! Em Ádua, cidade no norte da Etiópia, crianças morrem por ninharias, às vezes apenas porque lhes falta um tubo, uma cânula, por onde se possa administrar-lhes um simples soro de reidratação. Uma diarreia infantil é já suficiente para que morra um recém-nascido em 24 horas! Como posso aceitar esse abismo entre a atenção que se dedica aos amigos do homem e o desinteresse que se observa pelo próprio homem?”
O mesmo tema foi retomado por Maria Volpe no blogue La 27sima ora, numa postagem com o título “Se un cane vale più di un bimbo” (“Se um cão vale mais do que uma criança”), o qual teve a beleza de 574 comentários, ainda que muitos (infelizmente) fossem de insulto à autora do artigo.
Pois bem, o apaixonado apelo do Alto Comissariado da ONU recoloca o debate na ordem do dia. “Quando considero o dinheiro que vem sendo investido nos direitos humanos, diz a Comissária, me pergunto o quão firme será de fato o empenho das pessoas que defendem os corajosos manifestantes que no Oriente Médio e no norte da África reafirmaram a importância desses direitos”.
Fica, pois, esta pergunta: por que somos tão avessos a fazer uma doação para ajudar uma criança que morre de fome ao mesmo tempo em que as lojas de objetos para animais domésticos se mostram um negócio da China?
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