LEITORES ASSÍDUOS (ou com vontade de sê-lo)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Gasta-se mais com pets do que com gente!?

Olá, amigos leitores!

Aqui em casa temos quatro cachorros (com um que mora, desde os tempos em que vivíamos em apartamento, dentro de casa) e dois gatos (estes também "indoor pets"). Minha mulher, meus filhos e eu somos todos, guardadas as proporções, muito carinhosos e atenciosos com os animais. Um dos cachorros, recolhemos da rua em condições, pobrezinho, lastimáveis. Está hoje um cão alegre, sadio e feliz.

Indignamo-nos com o tratamento horroroso que se dispensa aos animais, sobretudo aos cães e gatos que são em nossa cidade largados ao deus-dará. Pensamos fazer-se urgente uma política pública de cuidados aos animais, com a merecida punição a esses falsos e cuéis "donos".

Contudo, parece haver um excesso de zelo pelos bichos quando se dá preferência a um cão em detrimento de uma criança, um ser humano. Ou alguém aí é da opinião que se deixe morrer uma criança de preferência a um animal, por mais querido que este venha a ser?

O texto a seguir, traduzi-o da versão on-line do jornal Corriere della Sera. Que o leitor considere.

Abraço!

Conrado

SE A EUROPA GASTA MAIS COM OS CÃES DO QUE COM OS DIREITOS HUMANOS...

(por Monica Ricci Sargentini -- jornal Corriere della Sera – 1º de julho de 2011)

A primavera árabe trouxe o vento da democracia ao Oriente Médio e ao norte da África, solicitando às Nações Unidas um esforço adicional para que se faça frente a novas emergências humanitárias. Mas o caixa está quase vazio. O orçamento de que pode dispor a Alta Comissária dos Direitos Humanos, a senhora Navi Pillay, é mísero: 202 milhões de dólares, “valor que os australianos, por exemplo, gastam num único ano pelos ovos de Páscoa ou que representa o custo de três aviões de combate F-16”, disse ontem Pillay numa conferência de imprensa em Genebra.

Seria necessário um empenho maior. “Peço a todos os Estados que deem mais, a fim de tornar os direitos humanos uma realidade”, acrescentou a sul-africana, no comando do Comissariado desde 2008. A seguir, desfere um golpe no estilo de vida dos cidadãos da UE: “A cifra que os europeus gastaram com seus animais domésticos somente no ano de 2010 (56,8 bilhões de euros) bastaria a financiar o sistema dos direitos humanos integralmente, incluindo aí meu gabinete, e isso por pelo menos 250 anos!”.

Palavras de fogo, que nos fazem refletir. Quando caminho pelas ruas de Milão, muitas vezes fico a observar as vitrines das pet shops. Algumas delas expõem produtos de superluxo: roupinhas, caminhas coloridas, proteção para as patinhas e tantas outras coisas do tipo, cujo uso não saberia dizer. Sabe-se que hoje em Nova York os cachorros vão ao psicólogo e que muita gente fala de seu pet como se fosse um ser humano.

Um paradoxo que se afigura ainda mais evidente a quem dedica a vida a ajudar os deserdados da terra. Alguém assim é a irmã Laura Girotto, há 18 anos missionária na Europa, que no Corriere do dia 17 de março passado manifestou a Gian Antonio Stella toda a sua indignação: “ Leio sobre iniciativas para adotar cães a distância. Vejo nos supermercados setores inteiros dedicados a alimentos para animais, a produtos para cuidá-los, a brinquedos confeccionados para eles... Brinquedos! Repito: amo os animais, mas Santo Deus! Em Ádua, cidade no norte da Etiópia, crianças morrem por ninharias, às vezes apenas porque lhes falta um tubo, uma cânula, por onde se possa administrar-lhes um simples soro de reidratação. Uma diarreia infantil é já suficiente para que morra um recém-nascido em 24 horas! Como posso aceitar esse abismo entre a atenção que se dedica aos amigos do homem e o desinteresse que se observa pelo próprio homem?”

O mesmo tema foi retomado por Maria Volpe no blogue La 27sima ora, numa postagem com o título “Se un cane vale più di un bimbo” (“Se um cão vale mais do que uma criança”), o qual teve a beleza de 574 comentários, ainda que muitos (infelizmente) fossem de insulto à autora do artigo.

Pois bem, o apaixonado apelo do Alto Comissariado da ONU recoloca o debate na ordem do dia. “Quando considero o dinheiro que vem sendo investido nos direitos humanos, diz a Comissária, me pergunto o quão firme será de fato o empenho das pessoas que defendem os corajosos manifestantes que no Oriente Médio e no norte da África reafirmaram a importância desses direitos”.

Fica, pois, esta pergunta: por que somos tão avessos a fazer uma doação para ajudar uma criança que morre de fome ao mesmo tempo em que as lojas de objetos para animais domésticos se mostram um negócio da China?

2 comentários:

  1. Bravo, bravo Conrado!
    juro que a tradução foi maravilhosa (isto que nada vi do original). sou de opinião que a questão humana se resolve com a renda básica universal. e, com a relativa riqueza daqueles pobres miseráveis, também se vai o descontrole demográfico. é sabido que o dinheiro é inimigo de grandes proles.
    DdAB

    ResponderExcluir
  2. O prof. Vinícius Borba é arquiteto e meu colega docente no IFSul - Campus Charqueadas. Enviou-me por email o comentário abaixo, que, pelas razões aí aduzidas, publico como se fosse comentário meu. É evidente que, antes de publicá-lo, escrevi ao Vinícius perguntando-lhe se podia fazê-lo. Não é o Vinícius o primeiro de meus leitores que encontra certa dificuldade em inserir comentários e, por isso, me escreve um email. Só agora me dou conta de que eu, tendo o consentimento do autor, é claro, posso eu mesmo publicar esses comentários aqui. Mas vamos ao texto do Vinícius.

    Conrado, tentei postar um comentário sobre o primeiro texto, mas acho que não obtive sucesso, pois não consegui visualizá-lo. Então segue o texto sobre o que penso do assunto.

    Primeiramente, um abraço e parabéns pelo blog. Serei um leitor e divulgador!

    Legal a iniciativa de trazeres outras realidades para refletirmos sobre este assunto. Vê-se que este tema, também em outros países, não tem solução, apenas reflexões e constatações.

    Aqui em Charqueadas, fala-se de algumas propostas para resolver a questão dos animais abandonados. Algumas ainda inviáveis economicamente (canil municipal), outras não permitidas legalmente (eutanásia).

    A postura do cidadão quase sempre é a mesma quando a vigilância sanitária interpela o morador sobre a posse de algum animal de rua:

    - Eu não sou o dono, apenas alimento o bicho.

    Assim, os animais seguem morando na rua, próximos de sua fonte de comida, mas sem alguém para dar-lhes cuidados de fato.

    No final das contas, cada vez mais acredito que muitos problemas urbanos são causados pelo comportamento social; portanto, a solução também é a mudança de postura da sociedade.

    Vinícius Borba

    ResponderExcluir