LEITORES ASSÍDUOS (ou com vontade de sê-lo)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A MÁ ESCOLARIDADE SERÁ DE FATO PIOR DO QUE A BAIXA ESCOLARIDADE?

Li com muito interesse, no jornal Zero Hora da sexta-feira passada (dia 12 de agosto de 2011), o texto “Baixa escolaridade e má escolaridade”, do “filósofo” e jornalista Eduardo Nunes (o leitor pode também encontrar o artigo nos endereços indicados no final deste texto). De saída, pegou-me a afirmação em destaque: “É fácil saber por que diplomamos, ano após ano, tantos analfabetos funcionais”, mas creio que o teria lido ainda que não trouxesse um destaque tão atrativo, porque venho quase sempre lendo tudo quanto se escreve sobre educação em Zero Hora e no Correio do Povo, jornais que assinamos. Enfim, sempre é o caso que o li, e o fiz com muito interesse.

Mas por que o interesse? À primeira leitura, me senti tentado a concordar com o autor, que aliás, é bom que se diga sempre, escreve muitíssimo bem. Depois, lendo de novo e de novo e novamente e ainda mais uma vez e outra, notei que aquilo me incomodava sempre. Por quê? Ora, leiamos juntos o parágrafo introdutório:

“A baixa escolaridade dos aspirantes ao mercado de trabalho é apontada como um entrave ao desenvolvimento do país, mas a falta desses anos a mais de estudo está longe de ser o principal problema a retardar nosso crescimento. Muito pior que a baixa escolaridade é a má escolaridade.”

Se não sou mais um desses “analfabetos funcionais” de que nos fala Nunes (e espero sinceramente não sê-lo!), devo entender que seria melhor a “baixa escolaridade” do que a “má escolaridade”, certo? (E aqui sempre nos virá à mente aquela famosa asserção atribuída a Albert Einstein de que pouco conhecimento seria uma coisa perigosa.)

Entenda-se: o conceito de má escolaridade que nos apresenta Nunes não é aquele que pregaria a violência, a discriminação étnica, o fundamentalismo religioso e tantos outros entulhos de tempos idos que desgraçadamente ainda hoje vemos existir. Nada disso! O autor entende por má escolaridade “o gritante despreparo com que as crianças saem dos anos iniciais”. São esses alunos, nos diz ele, “incapazes de entender” o que está escrito nos livros didáticos enviados às escolas pelo MEC. Em Matemática, não conseguem acompanhar os conteúdos próprios da etapa em que se encontram, o que obriga os professores dessa disciplina a voltarem a ensinar-lhes as quatro operações básicas, quando já deveriam andar três anos adiante no conteúdo. Nunes vê nesse atraso a razão da “tragédia dos exames da OAB, em que a imensa maioria dos postulantes, todos bacharéis, é reprovada”. Menciona o saudoso jornalista Fausto Wolff, que, segundo ele, “costumava dizer que devia quase tudo que sabia a suas professoras do primário, com quem aprendeu a ler, escrever e pensar”. Para o autor, é nos primeiros anos de escola que se estabelecem os “alicerces” que “garantem aprendizado efetivo e maduro pelo resto da vida”. E conclui: “Se mal trabalhados [esses alicerces], fazem com que todo o aprendizado posterior seja carente e incompleto.” Portanto, para Nunes, a má escolaridade seria o, digamos, mau serviço em termos de ensino de conteúdos, sobretudo no Ensino Fundamental, quando os alunos “certamente deixaram de aprender muitas coisas que deviam ter aprendido”.

Todavia, ainda que se aprenda pouco em termos de conteúdo no Ensino Fundamental, não são poucos os estudos a indicar-nos que o aumento nos anos de escolaridade está diretamente associado à melhoria dos padrões de saúde pública (com redução da taxa de infecção pelo vírus HIV, aumento da taxa de vacinação, ganhos acentuados na prevenção e no tratamento de doenças, melhoria nas condições de higiene e em matéria de nutrição, etc.), de demografia (com redução das taxas de mortalidade infantil e de morbidade maternal, aumento da expectativa ou esperança de vida, controle da natalidade, com redução da gravidez indesejada, etc.) e de economia (com o aumento da produtividade das sociedades aumenta-se por conseguinte o poder aquisitivo, etc.), para não mencionarmos aqui senão três áreas importantes.

Igualmente, do ponto de vista político-social, não será decerto irrelevante o fato de que, ao aumento do tempo de escolarização, possamos associar, nas sociedades modernas, a capacidade de uma melhor compreensão dos mecanismos de resolução não violenta de conflitos, a autoconfiança do cidadão, um melhor entendimento das diferenças entre grupos sociais distintos, entre outros benefícios, e tudo isso, é claro, sendo a resultante de mais acesso à informação, que em muitas comunidades (inclusive brasileiras) só se verificará na escola. Não será por outra razão, aliás, que na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (1989) figura a educação como um dos direitos inalienáveis da criança (que, naquele documento, conforme Art. 1º, é “todo ser humano menor de 18 anos”).

Não quero discordar de Nunes quanto à baixa qualidade em termos de conteúdos da educação brasileira contemporânea. Venho lecionando há já tempo suficiente para conhecer nossas escolas (públicas e privadas). Mas esse trololó de que no passado as coisas eram melhores não me convence. E não precisarei buscar pelo Google estatísticas e outros dados para afirmar que, a não ser pelos beneficiados de então, ninguém seriamente trocaria a situação educacional brasileira de hoje por aquela que tínhamos há 40 anos. É claro que os alunos do Ensino Médio do Colégio Pedro II, naquele famoso curso de bacharelado que lá havia, acompanhavam sem grandes problemas os exemplos de Ciro dos Anjos, Eça de Queirós, Machado de Assis, José de Alencar, Clarice Lispector, etc. que Othon Garcia lhes apresentava em aula a fim de ilustrar os “tipos de discurso”, coisa que alunos meus, formandos do curso de Direito de distinta universidade gaúcha, não puderam fazer, forçando-me a usar material “mais acessível” em lugar dos excelentes capítulos III e IV do Comunicação em prosa moderna. Mas, que diabos, homem! Dos 511 anos de história do nosso país, 322 (63%) vivemos sob a condição de colônia, e faz somente 40 (de 1971 para cá) que nosso Ensino Fundamental é obrigatório, período que não ultrapassará (se tampouco sou analfabeto funcional em matemática, bem entendido!) 8% do total de nossa existência aqui neste Novo Mundo! Portanto, garantir a escola para todos, ainda que a escolaridade não seja (ainda) boa, a meu ver será sempre melhor do que não ver essa gente toda frequentando a escola, sobretudo se a má escolaridade não tem, como me parece que não tenha, a orientação do entulho referido acima, tratando-se ao contrário de algo que boas políticas públicas na área podem, num futuro não muito distante (espera-se), vir a tornar “bom”.

Agora, que nós professores sejamos no geral mal preparados, isso ninguém ignora. Mas o Nunes, que, parece, já não leciona mais, mete o dedão na ferida e nos coloca em duas categorias: os incompetentes e os mal-intencionados. Os primeiros porque não sabem ensinar, ponto, e os segundos porque, como diz, “ensinam mal por opção”. Estes não deixam igualmente de ser incompetentes, visto, segundo Nunes, implementarem mal as teorias pedagógicas nas escolas, ao passo que aqueles poderiam até ser considerados um tanto mal-intencionados também, uma vez que adotam a carreira do magistério porque “não conseguem colocação melhor”. É triste! No entanto, nestes meus vários anos de magistério, quanta gente eu vi que não era uma coisa nem outra. Gente equilibrada e extremamente bem-intencionada, que busca incansavelmente qualificar a si e a seus alunos, que compreende que na vida o vestibular não é tudo – mais: que é o vestibular uma aberração de um sistema educacional elitista, que só premia aqueles que largam quadras e quadras na frente. Ora, e se não for pelo vestibular, muito conteúdo considerado “importante” perde ligeirito seu status quo, ou o leitor aí que não atua na área de Física ou Química ainda se lembrará em detalhes das leis de Newton ou da numeração dos gases nobres? E menciono essas duas disciplinas aqui ao léu, que em todas haverá coisas de que nos esquecemos tão logo delas deixamos de ter necessidade, e o fazemos muito bem, penso eu!

Por fim, não penso em defender aqui as políticas públicas que hoje temos para a educação, as quais nosso inconformado Nunes não deixa, é claro, de também criticar, ainda que o faça meio en passant (não fala diretamente, por exemplo, como me parece que devia no espaço que ocupou, que estamos longe de investir os 10% do nosso PIB na educação brasileira, como aliás quer o Texto Constitucional). Apenas direi que essas políticas nem sempre estão equivocadas. Um dado interessante: dos 61 países que vêm medindo sua “qualidade de ensino” através das orientações do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, na sigla em inglês), o Brasil ocupa a 49ª posição em Leitura e Ciências, e a 53ª em Matemática, enquanto o Japão se encontra na 7ª posição em Leitura e Matemática, e na 5ª em Ciências (dados de 2009). Contudo, no Japão não há reprovação ao passo que o Brasil, apesar de dizermos que aqui os alunos avançam a torto e a direito, é o terceiro colocado em termos de reprovação. Detalhe: já se constatou (e os dados no site da OCDE, organização que coordena o PISA, são bastante eloquentes) que os países que mais reprovam são justamente aqueles que se encontram mais abaixo na classificação.

Haverá decerto outras variáveis aí, não lhe parece, amigo leitor? Em todo caso, questões educacionais são sempre bastante complexas, e o texto do Nunes, ainda que bem escrito e aparentemente óbvio, revela-nos no entanto que o autor, assim como aqueles professores e alunos que ele critica, precisa sempre estudar mais.

Aqui estão os endereços onde o leitor pode encontrar o artigo do Eduardo Nunes:

http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/18090/opiniao-baixa-escolaridade-e-ma-escolaridade-por-eduardo-nunes/

http://eduardonunes.org/escola/baixa-escolaridade-x-ma-escolaridade/

21 comentários:

  1. Conrado,

    li teu post e acho que deixas claro algumas coisas bem importantes que temos comentado tbm na academia sobre a educacao.
    Primeiro: a educacao tem virado um assunto facil de ser comentado, discutido, mencionado, etc, em muitos meios de comunicacao e em qualquer roda de conversa informal. Bem, mas quem sao os que comentam e criticam? O fazem com a propriedade de quem vive a realidade da escola publica? Ou o fazem porque eh bom falar sobre esse assunto que suscita muitas criticas e nao tem respostas?
    Segundo: ha sempre a tendencia de achar um culpado para os caminhos mal sucedidos da educacao. E esse culpado eh geralmente o professor. Isso vai ao encontro do discurso que desmerece a nossa profissao e acaba por considera-la cheia de incompetentes, profissionais infelizes, mal pagos, uma raça dispensavel, ate.
    Terceiro: usar o exemplo da prova da OAB demonstra o despreparo do autor do texto com relacao ao que se discute sobre esse exame. Lembrando o corporativismo que ela representa cabe pensar na sua inconstitucionalidade que tem sido analisada atualmente no Brasil (discussao demasiado longa para este espaco...).
    Quarto: a questao da qualidade do ensino, o saudosismo com relacao a qualidade que ele tinha no passado, etc, serve, as vezes, apenas para mascarar a crise de empregos no Brasil, a necessidade de uma serie de especialidades e conhecimentos que os profissionais tem que ter para disputar uma vaga de salario minimo em uma empresa que deseja contratar com carteira assinada. Mais um dos discursos que atribui aos desempregados a culpa por sua situacao precaria.
    Enfim, falar sobre a educacao, dizendo sempre o raso e o obvio que sao comumente manifestados no senso comum eh muito facil e atende a duas grandes questoes a se pensar: a incapacidade critica dos leitores e a necessidade de produtividade textual ao qual muitos autores profissionais tem se submetido nos ultimos tempos.
    Nao digo que estes sejam os motivos que movem este autor em especial mas...

    Abraco
    Carla

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  2. Puxa, Carla, que legal poder contar com um comentário assim tão qualificado e atualizado!

    Fico muito agradecido pela tua leitura e intervenção.

    Volta sempre: a casa é nossa!

    Grande abraço!

    Conrado

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  3. Abordagem interessante de um assunto interessante.

    1) Acho que não se pode pegar muito pesado na questão "o que é pior, má escolaridade ou baixa escolaridade". Afirmações categóricas pertencem a esse gênero de artigo. Pessoalmente, prefiro compreendê-las como um recurso estético para reforçar uma idéia (nesse caso, a má escolaridade).

    2) Não vou falar como se soubesse qual o grande problema da nossa educação, mas uma coisa me incomoda mais do que as outras: o objetivo da educação. Estudar é importante para conseguir emprego. Para conseguir o emprego, não precisamos saber nada, precisamos passar na prova e pegar o diploma. Eu passei os últimos doze anos de minha vida estudando e posso afirmar: estamos treinando nossos alunos para fazer testes. Reflexão é aquela coisa chata que o professor fala enquanto os alunos pensam em outra coisa. Para atingir seus objetivos na vida, o aluno não precisa aprender, e ele tem coisas mais importantes para fazer (como ficar parado em um posto de gasolina e beber cerveja). Me diga, para que ele vai aprender? Todo o ambiente em torno dele é adaptado para que isso não seja necessário — e até desvantajoso. A televisão é feita de modo de tal modo que as capacidades mentais são desnecessárias. Os prazeres do espírito e até mesmo a boemia intelectual são conceitos ridículos ou desconhecidos.Durante o ensino médio, ouvi alunos que defendiam enfaticamente que a disciplina de Artes deveria ser removidas do currículo — afinal, ela não serve para nada. Nesse ponto é melhor que eu pare de escrever. Por mais que eu goste da letra de "the impossible dream", tenho minhas dúvidas. Em um conto de Woody Allen, um personagem começa seu discurso com a frase: "Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher."

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  4. Molina!

    És um dos meus interlocutores favoritos, sobretudo quando, a meu pedido, paraste de me chamar de "professor" (não que eu não goste de ser assim chamado, mas no caso, não havendo mais entre nós essa relação formal, o vocativo parecia-me antes distanciar-nos que justificar os anos de estudo que me conferiram aquele título).

    E és, Molina, um exemplo vivo a indicar-nos que nós professores podemos no máximo agir como guias de nossos alunos, pois desde cedo, nos quatro anos que passaste conosco no IFSul, já vias muito bem o que te interessava, sem jamais descurar, diga-se sempre, daquilo que, desinteressante embora para ti, tinhas de cumprir (poor fellow!). E assim seguiste teu caminho, com passos seguros e sonoros (de quem não é tangido) rumo a teus próprios objetivos.

    Não estás, infelizmente, entre a maioria dos alunos. Chego a pensar que representas a exceção a confirmar a triste regra: estudar só faz sentido se orientado a provas.

    "The impossible dream" (seria deveras impossível?) é encontrar um modo de fazer com que se estude não para o "mercado de trabalho", ou muito menos para as provas (das quais o vestibular seria "a" prova), mas estudar antes pelo simples gosto de querer saber algo, pela vontade intrínseca em nós seres humanos de conhecer o mundo e suas as coisas, e sem que isso seja necessariamente de uso imediato. O mercado de trabalho e as provas (se ainda houvesse estas) seriam tão somente uma consequência, jamais um objetivo ou, pior, o único objetivo.

    Abraço e muito obrigado pelo comentário!

    Conrado

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  5. Taí um assunto que rende. E tudo depende da visão de quem o trata: otimista ou pessimista. Digo isso porque penso que dominar o assunto, ou viver a situação, parece não ser suficiente, pois conheço pessoas com vasta experiência em ensino/educação que concordariam com o tal “filósofo”. E quando se fala em “não reprovação”, então? Tem gente que surta: “querem acabar com a nossa profissão!” Como se a única função do professor fosse aprovar ou reprovar o aluno.

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  6. Olá, Conrado

    Talvez não tenha ficado claro no meu artigo, mas não defendo, de forma alguma, a baixa escolaridade.

    Quis apenas dizer que nem sempre um diploma significa aprendizado. Aliás, no caso das escolas públicas, QUASE NUNCA significa, pois estive no outro lado do balcão por bastante tempo e posso dizer que, pelo menos nas escolas onde trabalhei, se dá muito pouco valor ao aprendizado: lá são aprovados, no nono ano, jovens que, pelo nível de conhecimentos obtidos, deveriam estar, no máximo, no quinto ano.

    Mas, para os nefelibatas das secretarias de educação e de alguns setores da academia, estar na escola, de corpo presente, já basta. Eles não parecem perceber a tragédia de uma escola que não ensina. Não parecem perceber que, ao aprovar jovens que não atingem os conhecimentos básicos necessários, estamos condenando esses jovens à falta de qualificação, sem a qual sua jornada no mercado de trabalho ficará muitíssimo mais difícil e limitada.

    Quanto à OAB, questionar a constitucionalidade de tal exame equivale a acusar de "pirotecnia" uma operação da PF que prende salafrários num ministério qualquer. Desvia-se o foco da questão.

    A questão mais importante, no caso da operação policial, não é se foi pirotecnia ou não; a questão importante é: os caras são saalafrários ou não? Faz-se falcatrua no ministério ou não?

    No caso do exame da OAB, a questão da constitucionalidade, no âmbito do meu artigo e da discussão sobre a educação, é o menos importante. O importante é: TEM GENTE SAINDO DIPLOMADO DA FACULDADE MESMO SENDO INCAPAZ DE INTERPRETAR UM TEXTO E DE PRODUZIR UM TEXTO COERENTE. That's the point. Interpretação e criação de texto se aprende no ensino fundamental.

    E, de uns anos pra cá, nossas escolas têm se descuidado desse quesito.

    Ah, a menção ao Japão foi simplesmente horrível. Não dá pra dizer "no japão não há reprovação e eles sabem mais que nós". Pelo amor de Deus! No Japão, não são poucos os jovens que se suicidam quando vão mal na escola. Não dá pra comparar a mentalidade...

    Ah, e notei que você e uma das comentaristas preferem usar aspas no termo "filósofo", como recurso argumentativo metalinguístico que visa a desqualificar o oponente na disputa retórica que aqui travamos. Parabéns pela ironia. Pelo visto, o conceito que vocês têm de filósofo é: "pessoa cujos pontos de vista estão alinhados aos meus". Discordo de tal definição e reconheço como filósofos muitos pensadores cujas ideias abomino, mas em quem reconheço uma certa postura em relação ao conhecimento que lhes faz merecer o epíteto. Não foi por essa postura que a ZH me definiu como filósofo (longe de mim reivindicar tal distinção), mas sim porque sou formado, também, em filosofia. Não que isso valha alguma coisa hoje em dia.

    Um abraço.

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  7. Sentiu-se ofendido o senhor ("filósofo") Eduardo Nunes pela forma irônica como foi citado? Talvez ele preferisse ser chamado de "professor", já que é formado em filosofia, o que lhe daria o título de "licenciado em filosofia". Ah, mas assim eu também o estaria ofendendo, pois ele mesmo divide a classe em dois grupos: o dos incompetentes, que "não conseguem colocação melhor", e o dos mal-intencionados, que "ensinam mal por opção".

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  8. Eduardo:

    De início, quero sinceramente te agradecer vires aqui a este espaço pôr, por assim dizer, um pouco mais de lenha no fogo desta nossa “disputa retórica”. Não creio que ambos desejemos coisa diversa no final das contas; apenas, é evidente que nos alinhamos a concepções divergentes de como devamos atingir o mesmo e almejado fim.

    Se te compreendo bem, não devíamos “aprovar jovens que não atingem os conhecimentos básicos necessários”, e isso por, pelo menos, duas razões: (a) “estamos condenando esses jovens à falta de qualificação, sem a qual sua jornada no mercado de trabalho ficará muitíssimo mais difícil e limitada” e (b) “interpretação e criação de texto se aprende no ensino fundamental”.

    Sinto calafrios quando me erguem diante dos olhos a rubrica “mercado de trabalho”. Não que me veja acometido de “nefelibatismo” agudo a ponto de desprezar a importância do trabalho na vida do cidadão. Teremos de trabalhar, que isso nos impuseram e ensinaram nossos pais europeus. Porém, custa-me crer que se queira incumbir à escola essa tarefa senão como a única, ao menos a mais importante. Não, não e mil vezes não! A escola não será uma fábrica de trabalhadores, até porque, se o tivesse de ser, não haveríamos de muito nos inquietarmos, visto, infelizmente, grande parte dos postos de trabalho disponíveis hoje apenas moderadamente requererem que se interprete e leia textos além do bare minimum. O sistema no qual vivemos tende a dispensar pensadores, dando preferência antes ao que poderíamos denominar “atuadores” em suas fileiras produtivas. Depois, dada a transitoriedade, a instabilidade desse mesmo mercado, pautar a educação por ele nos colocaria numa posição bastante arriscada, sem contar que em documentos oficiais, ainda que não se deixe de considerar o mercado de trabalho, encontra-se uma mais ampla preocupação com a “formação” do cidadão. (Não gosto da palavra “formação”, que me soa algo como “formatação”, mas enfim...)

    Procurei indicar no meu texto algumas razões de por que mantermos os alunos na escola, ainda que hoje o nível de aquisição de conteúdos nela não seja talvez aquele que desejaríamos, será sempre melhor do que forçar a barra de modo a que esses alunos acabem abandonando-a, e será isto que faremos caso venhamos a “reprovar” mais: muitos jovens, sobretudo de classes populares, acabarão evadindo. A comparação com o Japão, admito, talvez não seja de fato a melhor. Em todo caso, o que será que há lá que não se recorre à reprovação e ainda assim se aprendem conteúdos como Leitura, Matemática e Ciências em níveis muito superiores aos nossos? Indiquei, no texto, que haveria certamente outras variáveis, mas comparações com o que fazem outras nações não deveria ser “simplesmente horrível”.

    Em suma, a escola é um espaço de aprendizagem, mas esta não será decerto apenas de conteúdos tradicionais, ainda que estes devam ser sempre oferecidos e incentivados.

    (CONTINUA)

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  9. (CONTINUAÇÃO)

    Agora, quando à “interpretação e criação de texto” se aprender “no ensino fundamental”, tenho cá minhas dúvidas. A experiência com interpretação e produção de textos que tenho me leva a crer que tais habilidades se desenvolvam para além do Ensino Fundamental e Médio. Lidar com textos é algo que não acaba tão facilmente de desenvolver-se em nós. Meu caso específico será talvez um bom exemplo do que quero dizer aqui. Quando, em 1986, ingressei na universidade, eu mal sabia pontuar um texto. Fico estarrecido de ver quanta coisa aprendi no que se refere à interpretação e produção de textos depois disso, e olha que eu, nascido em 65, já ia alcançando então meus 21 anos de idade!

    É certo que poderíamos reformular o currículo dos primeiros anos de estudo, dando talvez mais ênfase a conhecimentos basilares como aqueles que requerem a leitura e a produção de textos. Porém, muito raramente um jovem de 16, 17 anos, que é mais ou menos a idade em que concluímos o Ensino Básico (Fundamental e Médio), mostrará um comando exaustivo em habilidades que sabemos bastante complexas. Letramento é algo que segue crescendo sempre, não te parece?

    Por fim, quero sinceramente que me desculpes as aspas em filósofo. Ainda que tenha parecido, minha intenção não foi menoscabar meu interlocutor. Tinha o plano de, no final do texto, explicar aquelas aspas, mas acabei esquecendo-me de fazê-lo. A denominação filósofo, propriamente falando, não se dá necessariamente porque concluiu alguém uma faculdade de Filosofia. Este será ou licenciado ou bacharel naquela disciplina. Filósofo será antes aquele, como tu mesmo dizes, em quem publicamente se reconhece “uma certa postura em relação ao conhecimento”, sobretudo quando essa pessoa tem uma obra na área. Talvez me equivoque, e hoje se chame filósofo tão somente o graduado em Filosofia.

    Abraço!

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  10. Conrado

    Acho que cometi um erro ao definir o que aqui se estabelece como "disputa retórica".

    Vamos deixar a retórica de lado.

    O nosso objetivo aqui não é, ou não deveria ser, apenas vencer uma disputa, no sentido da disputatio que se travava na Idade Média ou dos embates entre oradores na Grécia Antiga.

    O nosso objetivo deveria ser, mais do que derrotar quem conosco debate, buscar juntos um diagnóstico e um tratamento para um problema crônico da nossa educação.

    Vamos falar de problemas concretos e verificáveis, que estão aí, gritantes, nas nossas escolas?

    1) As crianças estão saindo da escola (formadas) sem aprender quase nada. Isso é grave. Gravíssimo. Nem sempre foi assim. Acredito que esse problema deve ser encarado e resolvido. Alguns pedagogos dizem que reprovar não resolve. Pode ser. Mas hoje quase não se reprova e o aprendizado está cada vez pior.

    Vou contar uma história real: uma vez, passamos o ano inteiro tentando fazer com que um aluno da sétima série estudasse. Envolvemos os pais, tentamos conscientizá-lo, não adiantou. Dissemos que se ele continuasse sem interesse pelo estudo, acabaria perdendo o ano, etc. No fim do ano, ele foi empurrado para a série seguinte, mesmo sem aprender - porque a secretaria de educação nos pressionava, sempre, a reduzir o índice de reprovação a qualquer custo, mesmo que no canetaço. No ano seguinte, lá estava esse aluno na oitava série, e novamente sem qualquer interesse. Dissemos que, se ele pretendia se formar, teria de aprender o que estávamos ensinando. Sabe o que ele disse? "Foi isso que vocês me disseram no ano passado, e eu tô aqui".

    Não sei se a reprovação é o melhor caminho para evitar a diplomação de analfabetismo funcional. Talvez não seja. Mas aprovar qualquer um, de qualquer jeito,como se faz na maioria das escolas gaúchas, NÃO TEM FUNCIONADO. Temos de achar uma outra solução. Uma das saídas que proponho é tratar o conhecimento e o aprendizado com mais seriedade. Aprovar todo mundo, independente do aprendizado, demonstra grave desrespeito, por parte da escola, pelo conhecimento. O que fica, na mente do aluno? Ao ver colegas que não aprenderam e não se interessaram, a criança percebe que a própria escola não se importa muito com o conhecimento.

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  11. 2)Você dizer que tem dúvidas quanto ao fato de a interpretação de textos ser uma habilidade que se deva aprender no ensino fundamental me deixa deveras chocado. Claro que não espero que um aluno de primeiro grau tenha como livro de cabeceira a Crítica da Razão Pura de Kant. Mas estou falando em interpretação mínima, em raciocínio lógico, em saber perceber o fio da meada em um texto minimamente inteligível... É isso que os alunos de hoje não aprendem mais. É verificável. Pegue uma turma de oitava série dê um texto. Como disse no artigo, eu não podia usar os livros didáticos porque os alunos não conseguiam entender os textos. Isso nem sempre foi assim... quando eu estudava no primeiro grau, em uma escola pública, de 1988 a 1995, nós éramos capazes de entender os textos, porque tivemos uma alfabetização sólida e efetiva.

    Sei que a minha querida professora Roseana, que me alfabetizou, seria hoje queimada como herege nas faculdades de Pedagogia. Mas ela conseguiu, isso é FATO, nos alfabetizar. E bem. Devo a ela boa parte da minha capacidade de interpretar e de construir um texto.

    Quando eu entrei nas duas faculdades que concluí, eu sabia pontuar um texto. Aprendi já no ensino fundamental, e aperfeiçoei no ensino médio. Não que todos devam fazer o mesmo caminho. Nunca é tarde para se aprender, nada impede que se aprenda em qualquer momento da vida. Mas o nosso sistema educacional não tem gerado condições para que isso aconteça, simplesmente porque está se disseminando a cultura de que isso (saber ler e escrever BEM) sequer é necessário.

    3) Seus calafrios ao ouvir a expressão "mercado de trabalho" me enchem de calafrios. Me entristece saber que ainda temos essa visão negativa da preparação para o trabalho. Sim, nossa sociedade neoeuropeia (como lembraste) tem no trabalho um de seus pilares, e não precisamos (nem podemos) fugir disso. Aliás, os proórios alunos têm uma opinião bem séria sobre isso. Eles SABEM que terão de se integrar à ciranda do mercado de trabalho. Nem todos têm a consciência de que os conhecimentos obtidos na escola poderiam lhes ser muito úteis nessa ciranda, mas o que vamos lhes dizer se há até setores da pedagogia e do magistério reforçando essa descrença na preparação para o trabalho?

    Já ouvi muitos dizerem que não devemos preparar os alunos para o trabalho e sim para a vida. Como se fosse possível separar uma coisa e outra. O que vejo é que muitos querem "libertar os oprimidos" mas não percebem que esse é um discurso retrógrado, de um tempo em que as teorias pedagógicas progressistas eram feitas com o objetivo de conscientizar o povo contra a a opressão da ditadura. Hoje, ser oprimido é não ter condições de lutar por um lugar ao sol. Lembra daquele aluno que nós empurramos para a oitava série e que jogou isso na nossa cara? Nós o condemamos à falta de qualificação. Nós, professores, com a nossa conivência, o condenamos a não poder ser mais do que servente de pedreiro. Claro que ele poderá fazer um EJA, estudar à noite, se dedicar e conseguir algo melhor. Mas ele não fez isso. Talvez nunca faça. Porque, quando ele estava com o caráter em formação, quando deveria estar aprendendo que o conhecimento é coisa séria e de muito valor para a vida, as pessoas que deveriam lhe ensinar isso apenas lhe deram um certificado de conclusão, sem que ele tivesse aprendido sequer um terço do que deveria aprender para merecê-lo.

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  12. E eu te pergunto, Eduardo, qual teria então sido a melhor solução para o aluno aquele que a SEC "empurrou"? Reprová-lo uma, duas, três vezes? O resultado final seria provavelmente muito pior do que aquele que hoje talvez se verifique, a saber, um trabalhador a mais sem diploma! Tu e eu e todos sabemos que a falta de diploma infelizmente fecha portas bem mais do que uma "imediata" falta de qualificação profissional. Ora, não nos deixemos enganar: a reprovação, como tu agora pareces começar a entender, não pode ser o caminho!

    Será preciso contrapor a casos específicos como esse que apresentas bom número de outros em que a vida de jovens pobres foi positivamente transformada pela escola, apesar das carências desta e da consequente incompletude da formação final daqueles, entre os quais possivelmente tu e eu nos enquadremos.

    Não sou contra a preparação ao mercado de trabalho, mas meus calafrios me vêm quando começo a ouvir ser essa a função precípua da educação. Pobre educação será essa!

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  13. Acredito que aprovar sem aprender é PIOR do que reprovar.

    Se começarmos a cristalizar (recristalizar, pois antigamente** era assim) a ideia de que "para passar de ano, é preciso aprender", aos poucos a coisa melhora. Um dos motivos do desinteresse CRÔNICO, sei disso porque convivi com isso diariamente, é que hoje os alunos já sabem que não precisam aprender para serem aprovados. Eles sabem que, mesmo se não aprenderem, ganham uma colher (às vezes, um balde) de chá no fim do ano. Virou balbúrdia.

    Se se estabelecesse o seguinte cânone: "PELO BEM DOS ALUNOS, QUE PRECISAM SABER QUE ESTUDO É COISA SÉRIA, SÓ SERÂO APROVADOS OS QUE ALCANÇAREM OBJETIVOS MÍNIMOS", no ano em que se adotasse a regra a reprovação chegaria perto de 90%. Nos anos seguintes, ia diminuir com certeza, pois eles receberiam o recado e entenderiam a mensagem.

    Mas isso dependeria de um pacto envolvendo pais, alunos, órgãos de educação, professores. Algo que nunca será feito: aprovar todo mundo é bem mais cômodo, mais "poético", romântico, e traz mais votos para diretores e burocratas, não é?


    ** Sei que, em algumas pessoas da academia, a palavra "antigamente" causa calafrios, pois eles acham que tudo que se fazia antes era errado, chato, opressor e feio, mas nem todas as práticas anteriores às nossas eram condenáveis: eis algo que a pós-modernidade precisa entender

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  14. Ah, tu dizes que a educação voltada para o mercado seria pobrfe. Concordo que ela seria, no mínimo, limitada.

    Mas ainda seria melhor que a educação que temos hoje, que simplesmente não é educação em absoluto... é só uma massa disforme de alunos sendo empurrados para lá e para cá, como melancias numa carreta.

    Uma educação para o trabalho já seria um avanço, que deveria ser seguido por outro avanço maior e mais abrangente. é permitido sonhar

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  15. Olá,
    Primeiro, quero te parabenizar, Conrado, pela iniciativa de criticar certas ideias, principalmente, aquelas que são difundidas nas mídias.

    Para basear meu argumento apresento uma fração de um texto de Eduardo Nunes, cujo título é: Chega de educação progressista.

    “No seu afã de conscientizar e libertar os oprimidos, a educação progressista os condenou à escravidão da falta de qualificação. Vivendo num mundo de faz de conta onde a interação social é mais importante que o conteúdo, os “libertadores” não percebem que a verdadeira libertação é ter condições de ser selecionado para um bom emprego, de ser aprovado no vestibular, de passar em um concurso público, e isso é negado à maioria dos alunos das escolas públicas.”

    Parece-me, antes, que esse discurso seja de um elitista, que defende o sistema que privilegia uns e marginalizam outros. Pois, o bom emprego, as vagas do vestibular, os concursos públicos são todos limitados. Não são acessíveis a todos, mesmo que todos fossem bons.
    Quem é mais importante o médico ou o lixeiro? Pode ser uma pergunta simples, mas na sua acepção a resposta é o médico, certo? Tem bom emprego, ganha bem e tem poder de consumo. Quem sabe é um profissional ético, mas isso não importa!
    Mas que acha de todos os dias, selecionar seu lixo, colocar dentro do carro e levar até o aterro sanitário? Ou se não tem tempo dessa tarefa diária, acumula o lixo dentro da tua casa para fazer isso uma vez por semana. Se essa tarefa não lhe agrada, como também a mim, quem sabe vamos defender uma sociedade mais justa e de igualdade de oportunidade?
    Penso que quando for falar em educação devas ampliar a discussão além do sucesso ou fracasso da educação progressista. Pois, acredito que a educação não tem somente a função de qualificar alguém ao mercado para ser um peão, pode até vestir terno e gravata, mas ainda assim é um peão. É preciso transcender a essa visão mercantil para, quem sabe, se educar para a dignidade, respeito, ética e mais, para ser feliz. Essa felicidade não é ter poder de consumo, mas é pela experiência de viver com dignidade e retidão.
    Não somos todos perfeitos, mas como sugeres é preciso sonhar!

    Abraço.

    Jônatas

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  16. olá a todos! parabens pela discussao, em especial ao autor do artigo que se dispôs a dialogar aqui, nestes espaços que podemos criar pela web onde ha descentralizaçao das vozes.

    de começo me parece que a questao está ou mal colocada ou tendenciosamente colocada. parece que as unicas alternativas sao: ou educar mal, ou educar nada, ou educar para o mercado.
    alem disso acaba por associar a ideia de 'educaçao progressista' e 'libertar os oprimidos' com uma cruzada de professores incompetentes que nada ensinam e diplomam os estudantes de qualquer jeito.

    estes a meu ver sao os pontos mais problemáticos que poderiam qualificar o(s) texto(s) como má retórica. tudo bem que se tratam de textos jornalísticos que se adaptam as tendencias de nossos meios de comunicaçao de massa, que tem como intençao mestra atingir o maior número possível de receptores e formar opiniao através do 'informar e entreter'. sendo assim, essas estratégias de convencimento montadas a partir de falácias, apesar de inválidas de um ponto de vista teorico, atendem outra funçao, e podem ser tidas como aceitaveis.

    o problema maior neste caso nao eh como essas ideias sao defendidas, mas quais ideias. e então entramos no terreno expicitamente político da definição de educação. e o que entendemos por educaçao depende de qual papel atribuímos aos homens na sociedade em que vivem: uma posiçao 'conservadora' defende uma inserçao em uma ordem ja dada e que deve ser reproduzida; 'progressistas' enfatizam o rompimento e o protagonismo dos homens com relaçao a essa ordem.
    entao ja vemos como educar para a eficiencia dentro de uma certa ordem (no caso, qualificar para o mercado de trabalho) nao eh o objetivo fundamental de uma educaçao progressista. essa eficiencia (a qualificaçao e 'sucesso' profissional/financeiro)podem ser vistos como sendo apenas meios, que talvez sejam sim estrategias interessantes dado nosso atual momento historico, mas que nao podem ser pensados como principal objetivo da educaçao.

    esse rompimento com a ordem mencionado anteriormente eh por considerá-la injusta e alienante, em uma educaçao que se oriente por um ideal de emancipaçao. nao se opoe a educar para o trabalho, mas sim para o mercado. se opoe a identificar poder de compra com humanizaçao. se opoe aos valores do mercado no sentido de que justiça social está acima do crescimento economico. se opoe a ideologia do mercado de que cada um deve se dedicar ao maximo a aumentar seu poder de compra individual, sem nunca se preocupar com as multidoes na miséria.
    alem disso a necessidade de se opor ao dominio do mercado (que coloca a escola, a cultura, os saberes, os alunos, os trabalhadores, enfim tudo como mercadoria), nao se contenta em apenas diminuir um pouco a violenta desigualdade na distribuiçao das riquezas e do poder. nao basta que todos possam passear no shopping, se os projetos de emancipação e democracia ainda fazem sentido. deixar de ser escravo para se tornar servo eh uma melhora, mas eh insatisfatoria e inaceitavel. escola nao eh curral para engordar gado para os lobos. por mais humanos que possam ser, os papeis sociais que assumem os transformam nisso: predadores-parasitas e suas contra-partidas. "maquinas de fazer maquinas de fazer nada". eh com essa ordem que a educaçao deve procurar romper. certo que praticar uma educaçao progressista eh bem mais dificil que a conservadora, ja que se coloca como "geradora de inquietaçao", oposiçao e resistencia a uma ordem relativamente consolidada. entao em termos de resultados imediatos de eficiencia medidos em exames e coisas do tipo eh claro que uma educaçao conservadora, apenas instrumentalizante, terá vantagens.

    me emocionei e ja escrevi demais euheuehu, abrassssssssssss

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  17. amigos:
    e também devemos nos cuidar daquela negadinha que acha que a política industrial é importante, pois gera capital físico. eu li num livro sobre as leis da dialética (da quantidade surge a qualidade) que devemos investir em capital humano, ou seja, de educação, saúde, nutrição, moradia, e por aí vai. no caso, se os governantes encherem estas atividades de recursos (melhores escolas, bibliotecas, viagens de estudos, bolsas e vencimentos elevados) não pode deixar de dar certo!
    DdAB

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  18. Jônatas

    Não gosto de termos como "elitista", que nos remetem a uma dicotomia maniqueísta dos tempos em que todos pensavam (tanto a esquerda quanto a direita) em termos de "nós" contra "eles". Não penso nesses termos e acredito que tal ideia, ainda muito em voga em certos círculos pedagógicos, só piora as coisas na educação.

    Quanto à sua afirmação de que conquistar um emprego é um privilégio para poucos, nada pode estar mais errado.

    A situação do Brasil mudou muito de uns anos pra cá e a pedagogia do tempo da "libertação dos oprimidos" precisa mudar também; temos hoje excedente de vagas, não de candidatos.

    O tempo todo aparecem diagnósticos que dizem que o crescimento do país está sendo emperrado pela falta de engenheiros, de técnicos para funções especializadas, de profissionais de Tecnologia da Informação, etc. Se formássemos (bem formados, com alfabetização EFETIVA e madura) pessoas capazes de pleitear essas vagas, isso ajudaria MUITO a diminuir a desigualdade social.

    Não quero elitismo, como afirmaste; quero que todos possam concorrer em igualdade de condições por qualquer vaga, de gari a médico.

    Nada tenho contra o gari, que também é uma profissão necessária. Mas um dos problemas da nossa educação pública é que ela condena os jovens a não poderem sonhar com algo melhor do que ser gari. Ao não ensinar os conhjecimentos mais básicos, que garantiriam sucesso em qualquer outro curso que escolhessem; ao dar diplomas a analfabetos funcionais, a erscola limita as suas possibilidades de sucesso no futuro, a escola faz com que ele não consiga ser mais do que gari ou pedreiro, por exemplo. A escola tira o seu direito de escolha, pois na maioria das vezes ele não irá para essas profissões por opção, mas por falta de opção. Tiramos sua liberdade de decidir.

    Também não acredito que a educação deva apenas qualificar para o mercado de trabalho. Acredito que essa seja UMA das suas funções. Mas as escolas onde trabalhei não cumpriam NENHUMA das funções que deveriam cumprir.

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  19. Samir

    Se você realmente acredita que darmos ao aluno a possibilidade de conseguir um trabalho criativo e bem remunerado não é importante, minha argumentação para por aqui.

    Me desculpe, mas não acho que esse debate sobre "máquinas de fazer nada", "ideal de emancipação", "predadores", "escravos", "servos" leve a qualquer lugar que não seja a salinha de masturbação pedagógica no alto da Torre de Marfim acadêmica (a de 1968, porque a de 2011 deveria estar entretida se masturbando sobre outros temas).

    No mundo real, a emancipação passa necessariamente pela melhoria das condições materiais de vida. Uma coisa não vive sem a outra.

    Um abraço

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  21. Obrigado, Eduardo, pela forte e significativa presença aqui neste espaço. Certamente, as pessoas interessadas nessas temáticas vão te visitar no teu blogue, onde a discussão deve continuar.

    Agradeço, igualmente, ao Jônatas e ao Samir as excelentes contribuições.

    Amigos, será sempre importante termos em mente que o debate é bom e necessário. Portanto, por mais que vejamos contrariadas nossas ideias e posições, mantenhamo-nos firmes na discussão.

    Enfim, nada de beicinhos e choros, que isso é coisa de pirralhos, e às vezes é preciso deixar de sê-lo!

    Um forte abraço!

    Conrado

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